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Rádio M80



Bárbara Guevara

             "Sinto que estou onde devia estar"


                                                                                                       Por: Cristina Alves



 
 
 
 
Bárbara Guevara. Qual é a origem de Guevara?
É de origem espanhola, mais precisamente basca. Existem poucas famílias Guevara em Espanha. De acordo com aquilo que consegui investigar, existem três. Uma delas é a minha. Do lado paterno. E ao que parece, afinal de Espanha até podem vir bons casamentos (risos).
 
A determinada altura da tua vida profissional abandonas o jornalismo na TSF para abraçares a carreira de animadora de emissão na M80. O que mudou? O que te levou a alterar este rumo na comunicação social?
 
Quando estava a estudar, alimentei uma ideia muito romântica do jornalismo. Achava que seria a ferramenta ideal para ajudar a mudar o mundo. Achava que podia fazer a minha parte e com isso contribuir para um mundo melhor. Achei que podia dar voz a quem não tinha como se fazer ouvir ou que podia de alguma forma tocar as pessoas. Assim que comecei a trabalhar, ainda na SIC Notícias, começaram a cair alguns mitos. Depois foram precisos mais 8 anos para eu aceitar a realidade e ver que me estava a corroer. A mudança deu-se com o nascimento do meu filho. Estive 9 meses em casa com ele e não tinha vontade nenhuma de voltar para a redacção. Foi quando me caiu a ficha e decidi ir ao encontro do que me satisfazia. Sentia que passava pela rádio, passava por comunicar, mas não mais como jornalista. Foi nessa altura que me propus a fazer um workshop para animadores de rádio na Cidade, com o Pedro Marques. E a ele devo o facto de estar onde estou agora. Foi ele que me formou e que me deu uma oportunidade de integrar a equipa da M80. Comecei a fazer as noites na M80 e, poucos meses depois, passaram-me para as Manhãs.
Conclusão: tive a melhor “escola” de jornalismo que se pode ter em Portugal e trabalhei com grandes profissionais, enormes jornalistas. E essa bagagem ninguém me tira. Foi um percurso importantíssimo que me fez crescer muito. Agora, devo dizer que nunca tive tanta liberdade como tenho agora como animadora de rádio e nunca como jornalista fiz tanta diferença e toquei tantas pessoas como pude fazer e tocar como locutora. Sinto que estou onde devia estar e estou muito grata por todo o percurso que me levou até aqui.
 
 
 
Das 7h às 11h nas ondas da rádio tens o privilégio de alterar a inércia, o mau humor, a preguiça de tantos ouvintes. É fácil para ti teres este estado de espírito de manhã, tão cedo?
 
 
Nunca fui uma “morning person”. Nunca gostei de acordar cedo. Sempre fiz grandes noitadas para estudar, sempre tive mais criatividade à noite e é pela madrugada dentro que tenho mais inspiração para escrever e criar. E de manhã, ao acordar, nunca fui pessoa de falar muito. Ora vai daí, o Universo decidiu “ah é? Então espera ai que já vais ver…” E tem sido o meu karma ser obrigada a acordar cedo e a contrariar tendências (risos). Sendo o meu filho a minha maior provação até agora nesse campo. Portanto, por altura de começar a fazer as Manhãs da M80, acordar às 05h30 e dormir cerca de 6 a 7 horas por noite é um mimo face à privação de sono imposta (às vezes) por um bebé (risos). Obviamente que nunca nos habituamos e é muito desgastante (e acho que falo por todos aqueles que fazem este horário), mas é uma questão de disciplina. Temos de ser um pouco mais regrados durante a semana ou compensar noitadas (de uma vida social saudável que importa manter para a nossa sanidade mental) com sestas, e ouvir mais o corpo para harmonizar a nossa vida. Mas, na verdade, aquilo que me faz sair da cama e abrir o microfone de sorriso na cara é o efeito que a rádio pode ter na vida de quem nos ouve. Mesmo que melhor o dia de uma só pessoa, já valeu a pena. E isso é o combustível que me mantém neste horário com um sorriso enorme na cara e muito feliz por fazê-lo. Além de que faço dupla com uma pessoa muito profissional e generosa, que calha de ser um dos meus grandes amigos (Paulo Fernandes), que conheço desde os meus 18 anos! Honestamente, é muito fácil ter um estado espírito positivo quando olhamos para a floresta e não só para a árvore!
 
 
 
 
O grupo a que pertence a M80 permite-te lidar com uma “irmã mais velha”, a Comercial. Como é fazer parte desta família?
 
É um orgulho imenso. E agimos como qualquer outra família saudável e latina (risos). Debatemos ideias, ouvem-se opiniões, temos uma multiplicidade de visões, uma liberdade imensa de expressar as nossas preocupações, tomamos como nossas as lutas dos outros membros da família, defendemos o “nosso sangue”, estamos lá de peito feito dado às balas, todos juntos, como uma família. Onde vai um, vão todos. A felicidade da vitória de uns é sentida por todos. Não só existe esta união e orgulho uns nos outros, como uma profunda admiração pelo trabalho e criatividade de todos aqueles que contribuem para que a irmã mais velha tenha sucesso. No meu caso particular, sinto que estou sempre a aprender, até porque algumas das pessoas com quem trabalho hoje foram e são referências para mim, como é o caso do Pedro Ribeiro, Vanda Miranda, Joana Azevedo, Diogo Beja ou o Pedro Marques. Ouço os meus colegas (no ar e em conversas privadas, até porque muitos são amigos próximos) com muita atenção e estou constantemente a aprender. Sejam eles da “irmã mais velha”, da “prima”, da “irmã mais nova”… Há excelentes profissionais em todo o grupo Media Capital Rádios e podemos aprender muito uns com os outros. 
 
 
Mudando de assunto. Não ainda não vamos falar do teu clube de coração. Vamos falar de alimentação. Somos o que comemos. E tu, Bárbara, és vegetariana. Quando tomaste esta decisão? Que alterações cruciais aconteceram na tua vida desde esta alteração nos alimentos que ingeres?
Tomei esta decisão aos 13 anos depois de ter assistido a uma matança do porco. Não consegui ver, só ouvia a agonia do animal. E foi aí que me apercebi da consequência mais directa e imediata de eu comer carne. Comecei por cortar as carnes vermelhas. Estive assim durante um ano. Depois cortei toda a carne. E mais tarde, o peixe. Na altura (início dos anos 90), era muito difícil ser-se vegetariano em Portugal. Havia muito pouco mercado e o pouco que havia era caríssimo. Mas o coração falou mais alto e mantive-me firme. Quatro anos depois de eu ter deixado de comer carne, a minha mãe tornou-se vegetariana também. Até hoje. É incrível o poder que a alimentação tem na nossa saúde. É absolutamente avassalador quando verificamos que nos podemos curar apenas através de uma maior consciência e cuidado com o que ingerimos. Não quero com isto dizer que não faço os meus disparates. Faço-os. Mas depois não fico surpreendida com a consequência do disparate (risos). Todos os dias vou aprendendo mais qualquer coisa sobre a alimentação e faço experiências comigo. É giro ver como funciona. Não sou vegan, mas admito que caminho cada vez mais nesse sentido.
Quanto à questão ética/moral/animal, não obrigo ninguém a ser como eu, aceito que comam o que quiserem, assim como espero que o outro aceite que eu não coma de tudo. Perguntam-me frequentemente se me faz confusão que comam carne à minha frente. Não me incomoda nada. Porque vai da consciência de cada um e não me meto. Sobretudo quando são adultos com plena consciência.
Quanto aos benefícios para a saúde, admito que muitas pessoas possam não estar a par e faço questão de partilhar o que sei com quem me rodeia, dar dicas quando oportuno… e olha, muitos foram os casos de pessoas que experimentaram uma ou outra dica, fizeram a experiência de cortar num ou noutro alimento e verificaram por si mesmas os benefícios disso. Faço um esforço para não “impingir” nada, apenas passar a informação e dar a cada um a liberdade de fazer o que bem entender com esse dado. Sendo que o melhor tira-teimas é experimentar… (risos)
 
 
Yoga. Que benefício traz a uma profissional como tu?
O Yoga traz benefícios a qualquer ser humano, seja de que profissão for.
Do ponto vista físico, o Yoga fornece-nos as ferramentas essenciais para lidar com situações menos benéficas no dia-à-dia e até situações fisicamente exigentes, evitando lesões. O corpo ganha maior resistência tanto à dor, como ao esforço. O corpo fica habituado a trabalhar a frio. Os músculos têm a elasticidade trabalhada pelo que evita certas lesões musculares que podem ocorrer no dia-à-dia.
Do ponto de vista do sistema nervoso, dá-nos as ferramentas para sabermos gerir as emoções e lidar melhor com situações de stress ou pressão, através de técnicas de respiração.
Mas o Yoga é apenas uma peça (essencial) de todo um tabuleiro que forma um jogo. O Yoga faz parte de um processo de harmonização entre corpo e mente que culmina com a meditação. E a meditação tem sido fundamental na minha vida.
Como vês, qualquer uma destas coisas tem aplicação prática e directa na minha vida, pessoal e consequentemente profissional.
E o mar? Conversas muito com ele. O que te diz? O que te passa de bom que levas para o resto do dia?
Converso imenso com o mar! Aliás, tento estar perto dele todos os dias. Basta-me estar a olhar para ele para me centrar. É uma das minhas técnicas de meditação. O movimento do mar, a incerteza, a irregularidade organizada e a cadência imprevisível. É um reflexo da própria vida, das mudanças inerentes a um mundo em constante mutação, do incerto, da falta de controlo que tens sobre a vida. O mar é tudo isto. Podes ter uma ideia das marés, das correntes, dos fundos do mar e das ondas que se formam, mas tudo pode mudar de repente, cada ondulação é diferente da anterior e a maneira como interages com uma onda nunca é igual. O mar ensina-te a abrir mão, treina-te o desapego e mostra-te a incrível capacidade de adaptação do ser humano.
Muitas vezes, meto-me na água com a prancha, mesmo sem ondas e fico sentada no “outside” a olhar o horizonte, a levar com o sol na cara e a falar. Se houver ondas, melhor. O surf tem o mesmo efeito que a meditação. Centra-nos, relativiza-nos as questões e saímos como novos da água. O surf tem a capacidade de te ensinar a ser humilde e resiliente. No mar, a surfar, vês-te ao espelho, no sentido em que te mostra os teus pontos fracos e te obriga a lidar com eles e a aceitá-los. Tal e qual a meditação.
E depois o teu gosto por viagens já está no ADN do teu filho. Ele é a tua melhor companhia nas tuas aventuras de conhecer o mundo?
Eu sou a minha melhor companhia. É a única que tenho por certa (risos). E de todas as companhias possíveis, a nossa própria companhia em viagem é sempre a melhor. Garanto que não há nada mais compensador do que viajar sozinho. Dito isto, vamos lá responder à pergunta… Tive o privilégio de começar a viajar muito nova, aos 4 anos. As viagens abriram-me horizontes, abriram-me a mentalidade e ajudaram-me a conhecer e a saber aceitar as diferenças. As viagens tornaram-me tão mais rica como ser humano que considero ser das melhores coisas que posso passar ao meu filho. E claro, se está no meu ADN, passou para ele também (risos). Abdico de lhe comprar o que considero supérfluo para lhe poder dar viagens que tenho a certeza que o vão marcar para a vida. Abrem-nos o coração. Tornam-nos mais tolerantes e humildes. E tenho a sorte de ter no meu filho um grande companheiro de viagem. Apesar dele ser muito novo, alinha em tudo. Tanto nos programas mais aventureiros, como nas incursões mais culturais/intelectuais. Estou a ver-me daqui a uns anos, quando ele for um bocado mais velho e com outra maturidade, a dar uma volta ao mundo com ele. Adorava!
 
 
Sabemos que és do Sporting. Não és muito dada ao futebol mas sabes o essencial para seres uma leoa. És mesmo uma Ronaldette assumida? O facto de Ronaldo ter iniciado a sua formação na Academia do Sporting teve influência ou ele poderia ter começado em qualquer outro clube que irias dizer a mesma coisa?
É óbvio e evidente que o facto do Ronaldo ter começado na Academia do SCP o torna ainda mais especial, para mim. Mas se tivesse andado noutro sítio, não lhe retiraria o mérito, como é lógico. Tenho muito orgulho nele e no percurso que ele traçou. É um miúdo com imensa pressão em cima, com exigências gigantescas a pesarem-lhe nos ombros, com uma imagem a manter perante os fãs, sobretudo os mais novos, com uma fortuna para gerir desde pouca maturidade, com uma vida pessoal pouco privada… e mesmo assim consegue ser o melhor do mundo. É isto.
 
 
Será sempre a rádio a comandar o teu lado profissional ou não tens medo de novos desafios, daqueles que podem surgir em qualquer altura da vida?
 
Nesta altura da minha vida, a rádio comanda a minha vida profissional. Mas tal como tenho dito ao longo desta entrevista, a vida está em constante mudança e estou preparada para o que for. Não seria a primeira vez. Tenho medo de muito pouca coisa, aliás de cada vez menos coisas. Mas de trabalhar, arriscar e de novos desafios não tenho medo absolutamente nenhum. Quando se consegue ultrapassar grandes mudanças uma vez, consegue-se ultrapassar todas as outras que se seguem. E de braços e peito aberto!

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