ENTREVISTA
Patrícia Motta Veiga
Foram as crónicas na plataforma Maria Capaz, que me fizeram descobrir a Patrícia Motta Veiga. Ao ler os seus pensamentos, parecia ouvir-me. Paro e penso!! Há quem se identifique com a letra de uma música do Abrunhosa, da Aurea ou até do Tony Carreira.
Eu.... Eu identifico-me com o que ela pensa e escreve.
Sorte ou empenho, aqui tenho a nossa conversa!
O que poderias afirmar de ti própria "permaneci, mas já não me sou..." no que concerne à visão da nossa vida política?
O meu Pai, que era um homem da Esquerda, tinha uma frase lapidar: “Quem, aos vinte anos, não é comunista, não tem coração. Quem, aos quarenta, ainda o é, não tem cabeça!”
Acho graça a isto, na medida em que, mesmo que não seja exactamente assim o teu processo, ao longo da vida vais circulando de A para Z conforme absorves mundo e percebes o que para ti é importante, o que te move ou o que te revolta.
E é importante reconheceres e abraçares essa mutação. Aceitares que não fazes a mínima ideia quem és hoje, que a única coisa de que podes ter certeza é do que foste.
Não há nenhum partido por quem eu me sinta absolutamente representada, nunca houve. Nem tão pouco uma ideologia. Tudo o que é feito pelos homens tem falhas, naturalmente. Dito isto, há alturas em que eu penso que o meu País precisa mais de uns do que de outros, em função do momento em que se encontra. E é certo que o mundo precisa de uma maior e mais activa preocupação com os direitos humanos em todas as suas valências, portanto, quem defende a dignidade das pessoas, de todas as pessoas, tem hoje, mais do que nunca, o meu apoio e o meu voto.
Quando descobres que "Tudo vale a pena se a alma não é pequena"?
No amor. A maior parte das pessoas, é no amor que experimenta o heroísmo. A maior “causa” das pessoas comuns é o Amor.
Quando os teus filhos aparecem na tua vida?
Desde sempre! A maternidade foi sempre, mais que um desejo, uma certeza e digo-lhes muitas vezes que já os tinha escolhido antes de nascerem e que são exactamente, cada um deles, o que eu tinha sonhado.
O mais velho tem dezanove, o mais novo tem um ano. Naturalmente são filhos de mães diferentes, de uma pessoa diferente. Cresci com a chegada de cada um deles e os quatro compõem-me. Como mãe, como mulher e acima de tudo, enquanto indivíduo.
Qual o Portugal que desejarias para eles?
Culto, tolerante e justo. O resto sucede.
Diz Vergílio Ferreira que nós portugueses somos dispersivos, preguiçosos e avulsos. E por essa razão somos poetas líricos. Concordas?
Para escrever um poema é preciso inspiração, para um romance, trabalho e disciplina. Nenhuma forma é maior que outra e precisamos das duas.
Tal como as pessoas, o povo também muda. Uma mudança mais lenta, mais difícil de observar de perto porque é transgeracional, mas muda. E embora tenhamos características que nos definem ou diferenciam, com tudo o que nos tem acontecido, elas vão-se esbatendo. Temos empresas, gente, instituições, na vanguarda das suas áreas e isso pode contradizer essa teoria.
O Portugal de hoje, já não é só o Portugal de Vergílio e ainda bem.
Os portugueses, como qualquer outro povo, são capazes de tudo, desde que os deixem fazer.
Depois de tudo o que leio de ti, tu não fazes parte, desta linha enraizada...
Pertencer a linhas, a correntes, a grupos, assusta-me. Pensa por ti, nada te serve em absoluto porque não és igual a ninguém.
O grande defeito dos intelectuais portugueses tem sido sempre o só lidarem com intelectuais. Vão para o povo, vejam o povo, diz Agostinho da Silva. Este é o problema actual dos nossos dias. Concordas com isto, acredito!
Há uma certa vergonha em ser entendido ou popular. Dizia-me a Rita Ferro, este fim-de-semana, que quando uma coisa é clara, acessível a todos, é classificada como inferior, e é verdade. Nós, ao contrário dos americanos, por exemplo, continuamos agarrados ao síndrome da superioridade, temos horror do comum, do simples. Pior, temos vergonha. Mas curiosamente, dizemos que o povo é burro! Por milagre, estamos à espera que saia do registo da Casa dos Segredos para o Kieslowski e isso não acontece se não houver quem faça a ponte, quem escreva ou produza arte para as pessoas reais e não para si mesmo ou para uma pequena elite.
Quando vês um acontecimento brutal como o de sexta-feira, em Paris... o que sentes? Como te dizes que é preciso fazer alguma coisa? O que dizes aos teus filhos?
É impossível não nos comovermos e assustarmos com o que está a acontecer no mundo, e sim, o que aconteceu em Paris toca-nos mais porque está mais próximo, porque traz para cima da mesa a nossa própria fragilidade.
Como disse na última crónica, se sofro mais com a morte do meu pai do que com a do teu, não significa que acredite que a vida de um seja mais valiosa que a do outro, mas apenas que, um está mais próximo da minha história e da minha vida.
Acredito que a origem de todos os males está na ignorância. A ignorância em cada uma das suas formas é responsável por todo o horror que estamos a viver e é nela que se apoia a intolerância.
Nós, que não somos agentes políticos ou económicos, temos um poder enorme: Combater uma e outra. Nas nossas casas, no café, no trabalho… Deixar de lado o velho e cómodo “não estou para me chatear” e começar a gritar como os malucos, se preciso for, até que, de pessoa em pessoa, de comunidade em comunidade, de país em país, se pratique a tolerância, se deixe de alimentar a ignorância e a desinformação.
Como sabes, os meus filhos têm idades muito diferentes, mas sempre lhes dissemos a verdade que cada um deles pedia, nem mais, nem menos. O que me preocupa, nestes momentos, é não banalizar, não dar o facto como consumado, mostrar as alternativas, o que pode ser feito. “Procura pelos bons… Eles estão sempre lá”.
Sei da tua revolta para quem olha para os refugiados, como terroristas. Portugal, diz-se moderno, mas fica aquém das tuas expectativas!!!?
O mundo não está aquém das tuas expectativas? Das minhas está!
Seria de esperar que, depois de tantos momentos dolorosos da história, já tivéssemos aprendido alguma coisa… Mas não. Perpetuamos aquilo que condenamos nos outros, aquilo de que já fomos vítimas, aquilo que nos envergonha, como se fossemos expectadores de uma vida que também é a nossa.
Muitos de nós já fomos refugiados, tivemos um êxodo de meio milhão de pessoas com a descolonização. Meio milhão de pessoas que fugiram da guerra, que perderam tudo, que só se queriam salvar e grande parte delas também foi acusada de roubar empregos, de ter hábitos estranhos, de trazer vícios novos e outros perigos. Foi só há 40 anos!
Portugal não é moderno. Por fora, podemos já não ser o país das mulheres vestidas de negro e com o buço por fazer mas por dentro, ninguém vai à depilação.
Machado de Assis diz palavra puxa palavra , uma ideia traz outra... Vamos lá.
A mulher de hoje...
É perigosíssima! Porque sabe que tem direito à felicidade e não abdica. Que bom.
Uma fotografia que guardas com muito carinho...
As primeiras de cada um dos meus filhos.
Não sou boa a escolher “uma” coisa. Nunca fui. Sou demasiado multifária para escolher seja o que for em detrimento de outra coisa, por isso acrescento a que estou sentada com os meus avós no jardim da Balaia, uma em que caminho ao lado do meu pai, a do meu baptizado, ao colo da minha mãe. A do meu casamento… Ai!
Uma mulher admirável que trazes sempre no coração…
A minha Avó Mimi. Nasceu num tempo em que às meninas só se lhes pedia que fossem bonitas e boas donas de casa. Que as mulheres, mesmo que quisessem, dificilmente podiam profissionalizar-se ou tirar um curso e nem o marido podiam escolher… Penso muitas vezes na sua história quando defendo a igualdade plena para as mulheres. A minha avó amava o meu avô e o meu avô amava-a de igual modo, mas podia não ter sido assim, não podia? Quantas mulheres?
O meu avô respeitava-a, permitiu que fizesse coisas relevantes, ouvia-a. Mas podia não ter sido assim.
A Avó Mimi, que já viveu uma guerra, que já perdeu um filho, um marido, os pais, o irmão, continua a tentar melhorar-se sempre, a tentar praticar o amor e ensina-nos isso, demonstrando-o todos os dias.
É uma inspiração. E é linda.
O livro de cabeceira desta noite...
“A minha Europa” da Maria Filomena Mónica.
O sonho que ainda falta cumprir, relativamente à humanidade...
Sem dúvida, o fim da mortalidade infantil.
O teu acto feminista que nunca esqueces....
Educar a minha filha e principalmente, educar os meus rapazes. A maior coisa que podes fazer pelo feminismo é criar gente que o pratique. Mulheres que se defendam e homens que as respeitem.
Com quem gostarias de ter uma bela conversa no rés do chão do palácio de Sintra...
Podes voar na história à vontade, o que lhe perguntavas?
Jesus. Se pudesse escolher qualquer pessoa da história para conversar, seria com certeza Jesus.
E começava por perguntar-lhe se é verdade o que dizem por aí… Será mesmo socialista?
Hoje fez-se história em Portugal. Casal gay pode adoptar. Perca por tardia, ou ainda vamos a tempo, de dar uma família mais completa a estas famílias.
É sempre tempo de fazer o que está certo. Faz muito mais sentido festejar o que finalmente aconteceu do que lamentar-me por só agora ter acontecido. Vamos a tempo de fazer tudo! Vamos a tempo de mudar o mundo! É agora! E que privilégio poder assistir e participar nesta época maravilhosa do nascimento de um país mais justo.
A igualdade de géneros, é uma miragem, ainda... infelizmente. Por onde deveríamos começar!?
Pelas escolas. Pela educação. É muito mais fácil criar mentalidades do que alterá-las.
Há uns anos ninguém reciclava nada e hoje, em cada casa, existem pequenos fiscais da reciclagem, que obrigam as mães a lavar as latas de atum. São as crianças que nos mudam. Temos que aproveitar isso.
Educar as meninas no sentido de se respeitarem, de acreditarem em si mesmas e não se deixarem subjugar em situação nenhuma. Educar os meninos no mesmo sentido.
Educar todos de igual forma, com a mesma mensagem, ensinando a valorizar o indivíduo mais do que o todo, porque é o todo que formata, que exclui o que é diferente. Acredito que o caminho é esse.
E combater a ignorância. Sempre!
Porque és uma Maria Capaz?
Porque sou mulher. As mulheres criam a humanidade, têm um enorme poder, podem transformar o que quiserem. Infelizmente, nem todas perceberam isso, ainda. Somos todas capazes!
Entrevistadora: Andreia Carneiro
Patrícia Motta Veiga
A maior "causa" das pessoas comuns é o AMOR
foto por Vitorino Coragem
Foram as crónicas na plataforma Maria Capaz, que me fizeram descobrir a Patrícia Motta Veiga. Ao ler os seus pensamentos, parecia ouvir-me. Paro e penso!! Há quem se identifique com a letra de uma música do Abrunhosa, da Aurea ou até do Tony Carreira.
Eu.... Eu identifico-me com o que ela pensa e escreve.
Sorte ou empenho, aqui tenho a nossa conversa!
O que poderias afirmar de ti própria "permaneci, mas já não me sou..." no que concerne à visão da nossa vida política?
O meu Pai, que era um homem da Esquerda, tinha uma frase lapidar: “Quem, aos vinte anos, não é comunista, não tem coração. Quem, aos quarenta, ainda o é, não tem cabeça!”
Acho graça a isto, na medida em que, mesmo que não seja exactamente assim o teu processo, ao longo da vida vais circulando de A para Z conforme absorves mundo e percebes o que para ti é importante, o que te move ou o que te revolta.
E é importante reconheceres e abraçares essa mutação. Aceitares que não fazes a mínima ideia quem és hoje, que a única coisa de que podes ter certeza é do que foste.
Não há nenhum partido por quem eu me sinta absolutamente representada, nunca houve. Nem tão pouco uma ideologia. Tudo o que é feito pelos homens tem falhas, naturalmente. Dito isto, há alturas em que eu penso que o meu País precisa mais de uns do que de outros, em função do momento em que se encontra. E é certo que o mundo precisa de uma maior e mais activa preocupação com os direitos humanos em todas as suas valências, portanto, quem defende a dignidade das pessoas, de todas as pessoas, tem hoje, mais do que nunca, o meu apoio e o meu voto.
Quando descobres que "Tudo vale a pena se a alma não é pequena"?
No amor. A maior parte das pessoas, é no amor que experimenta o heroísmo. A maior “causa” das pessoas comuns é o Amor.
Quando os teus filhos aparecem na tua vida?
Desde sempre! A maternidade foi sempre, mais que um desejo, uma certeza e digo-lhes muitas vezes que já os tinha escolhido antes de nascerem e que são exactamente, cada um deles, o que eu tinha sonhado.
O mais velho tem dezanove, o mais novo tem um ano. Naturalmente são filhos de mães diferentes, de uma pessoa diferente. Cresci com a chegada de cada um deles e os quatro compõem-me. Como mãe, como mulher e acima de tudo, enquanto indivíduo.
Qual o Portugal que desejarias para eles?
Culto, tolerante e justo. O resto sucede.
Diz Vergílio Ferreira que nós portugueses somos dispersivos, preguiçosos e avulsos. E por essa razão somos poetas líricos. Concordas?
Para escrever um poema é preciso inspiração, para um romance, trabalho e disciplina. Nenhuma forma é maior que outra e precisamos das duas.
Tal como as pessoas, o povo também muda. Uma mudança mais lenta, mais difícil de observar de perto porque é transgeracional, mas muda. E embora tenhamos características que nos definem ou diferenciam, com tudo o que nos tem acontecido, elas vão-se esbatendo. Temos empresas, gente, instituições, na vanguarda das suas áreas e isso pode contradizer essa teoria.
O Portugal de hoje, já não é só o Portugal de Vergílio e ainda bem.
Os portugueses, como qualquer outro povo, são capazes de tudo, desde que os deixem fazer.
Depois de tudo o que leio de ti, tu não fazes parte, desta linha enraizada...
Pertencer a linhas, a correntes, a grupos, assusta-me. Pensa por ti, nada te serve em absoluto porque não és igual a ninguém.
O grande defeito dos intelectuais portugueses tem sido sempre o só lidarem com intelectuais. Vão para o povo, vejam o povo, diz Agostinho da Silva. Este é o problema actual dos nossos dias. Concordas com isto, acredito!
Há uma certa vergonha em ser entendido ou popular. Dizia-me a Rita Ferro, este fim-de-semana, que quando uma coisa é clara, acessível a todos, é classificada como inferior, e é verdade. Nós, ao contrário dos americanos, por exemplo, continuamos agarrados ao síndrome da superioridade, temos horror do comum, do simples. Pior, temos vergonha. Mas curiosamente, dizemos que o povo é burro! Por milagre, estamos à espera que saia do registo da Casa dos Segredos para o Kieslowski e isso não acontece se não houver quem faça a ponte, quem escreva ou produza arte para as pessoas reais e não para si mesmo ou para uma pequena elite.
Quando vês um acontecimento brutal como o de sexta-feira, em Paris... o que sentes? Como te dizes que é preciso fazer alguma coisa? O que dizes aos teus filhos?
É impossível não nos comovermos e assustarmos com o que está a acontecer no mundo, e sim, o que aconteceu em Paris toca-nos mais porque está mais próximo, porque traz para cima da mesa a nossa própria fragilidade.
Como disse na última crónica, se sofro mais com a morte do meu pai do que com a do teu, não significa que acredite que a vida de um seja mais valiosa que a do outro, mas apenas que, um está mais próximo da minha história e da minha vida.
Acredito que a origem de todos os males está na ignorância. A ignorância em cada uma das suas formas é responsável por todo o horror que estamos a viver e é nela que se apoia a intolerância.
Nós, que não somos agentes políticos ou económicos, temos um poder enorme: Combater uma e outra. Nas nossas casas, no café, no trabalho… Deixar de lado o velho e cómodo “não estou para me chatear” e começar a gritar como os malucos, se preciso for, até que, de pessoa em pessoa, de comunidade em comunidade, de país em país, se pratique a tolerância, se deixe de alimentar a ignorância e a desinformação.
Como sabes, os meus filhos têm idades muito diferentes, mas sempre lhes dissemos a verdade que cada um deles pedia, nem mais, nem menos. O que me preocupa, nestes momentos, é não banalizar, não dar o facto como consumado, mostrar as alternativas, o que pode ser feito. “Procura pelos bons… Eles estão sempre lá”.
Sei da tua revolta para quem olha para os refugiados, como terroristas. Portugal, diz-se moderno, mas fica aquém das tuas expectativas!!!?
O mundo não está aquém das tuas expectativas? Das minhas está!
Seria de esperar que, depois de tantos momentos dolorosos da história, já tivéssemos aprendido alguma coisa… Mas não. Perpetuamos aquilo que condenamos nos outros, aquilo de que já fomos vítimas, aquilo que nos envergonha, como se fossemos expectadores de uma vida que também é a nossa.
Muitos de nós já fomos refugiados, tivemos um êxodo de meio milhão de pessoas com a descolonização. Meio milhão de pessoas que fugiram da guerra, que perderam tudo, que só se queriam salvar e grande parte delas também foi acusada de roubar empregos, de ter hábitos estranhos, de trazer vícios novos e outros perigos. Foi só há 40 anos!
Portugal não é moderno. Por fora, podemos já não ser o país das mulheres vestidas de negro e com o buço por fazer mas por dentro, ninguém vai à depilação.
Machado de Assis diz palavra puxa palavra , uma ideia traz outra... Vamos lá.
A mulher de hoje...
É perigosíssima! Porque sabe que tem direito à felicidade e não abdica. Que bom.
Uma fotografia que guardas com muito carinho...
As primeiras de cada um dos meus filhos.
Não sou boa a escolher “uma” coisa. Nunca fui. Sou demasiado multifária para escolher seja o que for em detrimento de outra coisa, por isso acrescento a que estou sentada com os meus avós no jardim da Balaia, uma em que caminho ao lado do meu pai, a do meu baptizado, ao colo da minha mãe. A do meu casamento… Ai!
Uma mulher admirável que trazes sempre no coração…
A minha Avó Mimi. Nasceu num tempo em que às meninas só se lhes pedia que fossem bonitas e boas donas de casa. Que as mulheres, mesmo que quisessem, dificilmente podiam profissionalizar-se ou tirar um curso e nem o marido podiam escolher… Penso muitas vezes na sua história quando defendo a igualdade plena para as mulheres. A minha avó amava o meu avô e o meu avô amava-a de igual modo, mas podia não ter sido assim, não podia? Quantas mulheres?
O meu avô respeitava-a, permitiu que fizesse coisas relevantes, ouvia-a. Mas podia não ter sido assim.
A Avó Mimi, que já viveu uma guerra, que já perdeu um filho, um marido, os pais, o irmão, continua a tentar melhorar-se sempre, a tentar praticar o amor e ensina-nos isso, demonstrando-o todos os dias.
É uma inspiração. E é linda.
O livro de cabeceira desta noite...
“A minha Europa” da Maria Filomena Mónica.
O sonho que ainda falta cumprir, relativamente à humanidade...
Sem dúvida, o fim da mortalidade infantil.
O teu acto feminista que nunca esqueces....
Educar a minha filha e principalmente, educar os meus rapazes. A maior coisa que podes fazer pelo feminismo é criar gente que o pratique. Mulheres que se defendam e homens que as respeitem.
Com quem gostarias de ter uma bela conversa no rés do chão do palácio de Sintra...
Podes voar na história à vontade, o que lhe perguntavas?
Jesus. Se pudesse escolher qualquer pessoa da história para conversar, seria com certeza Jesus.
E começava por perguntar-lhe se é verdade o que dizem por aí… Será mesmo socialista?
Hoje fez-se história em Portugal. Casal gay pode adoptar. Perca por tardia, ou ainda vamos a tempo, de dar uma família mais completa a estas famílias.
É sempre tempo de fazer o que está certo. Faz muito mais sentido festejar o que finalmente aconteceu do que lamentar-me por só agora ter acontecido. Vamos a tempo de fazer tudo! Vamos a tempo de mudar o mundo! É agora! E que privilégio poder assistir e participar nesta época maravilhosa do nascimento de um país mais justo.
A igualdade de géneros, é uma miragem, ainda... infelizmente. Por onde deveríamos começar!?
Pelas escolas. Pela educação. É muito mais fácil criar mentalidades do que alterá-las.
Há uns anos ninguém reciclava nada e hoje, em cada casa, existem pequenos fiscais da reciclagem, que obrigam as mães a lavar as latas de atum. São as crianças que nos mudam. Temos que aproveitar isso.
Educar as meninas no sentido de se respeitarem, de acreditarem em si mesmas e não se deixarem subjugar em situação nenhuma. Educar os meninos no mesmo sentido.
Educar todos de igual forma, com a mesma mensagem, ensinando a valorizar o indivíduo mais do que o todo, porque é o todo que formata, que exclui o que é diferente. Acredito que o caminho é esse.
E combater a ignorância. Sempre!
Porque és uma Maria Capaz?
Porque sou mulher. As mulheres criam a humanidade, têm um enorme poder, podem transformar o que quiserem. Infelizmente, nem todas perceberam isso, ainda. Somos todas capazes!
Entrevistadora: Andreia Carneiro
A Patrícia Motta Veiga revela-se nesta entrevista como alguém do seu tempo e disponível para o mudar para melhorar, sem lamentar o que está mal. É uma Patrícia que todos os dias se faz a si próprio e se dá ao Mundo. Mas, sobretudo é a mãe, ou antes, várias mães, diferente para um dos seus 4 filhos, "filhos de mães diferentes". Feminista, porque mulher, mas também o seria se fosse homem. É sempre um prazer ler a Patrícia e esta entrevista deu-nos a oportunidade de a perceber de uma maneira global. Parabéns também à Andreia Carneiro.
ResponderEliminarEXCELENTE ENTREVISTA " MARIA CAPAZ ".....AMEI.
ResponderEliminarPARABÉNS!
GUIOMAR PEDREIRA CASAS NOVAS
Acabei de ler a minha neta.Como me sinto contente por descobrir nas suas respostas, a Mulher, que eu sempre
ResponderEliminardesejei que ela fosse! Ajudei-a a nascer, e o seu primeiro colo foi o meu. Um bebé tranquilo, uma criança sociável.
Falou de mim com o mesmo amor, com que eu falo dela! É esse Amor que nos liga,que resiste a todas as turbulências da vida! A felicidade é um estado de alma! Neste momento, sou uma velha senhora muito feliz!!!