Desporto na Rádio
Pedro Ferreira
A Paixão pela rádio
por: Andreia Carneiro
Pedro Ferreira
A Paixão pela rádio
por: Andreia Carneiro
Há anos que a voz de Pedro Ferreira se ouve na Antena 1, em reportagens de desporto e em relatos de futebol. Mas, quis a vida profissional que a mais bonita conversa, até aos dias de hoje, tenha sido com Miguel Torga. Todos os passos na rádio foram contados por si, num regresso de Kiev.
Conta-me como nasceu a tua paixão pela rádio?
A minha paixão é mesmo a rádio. Foi praticamente a minha casa desde o dia em que nasci. O meu pai começou a trabalhar aos 16 anos na Emissora Nacional, foi jornalista durante mais de 40 anos, e eu desde muito cedo frequentei a rádio, observava tudo o que se passava e deixei-me apaixonar pelo fascinio, quase secreto, da rádio. As pessoas eram apenas um nome e uma voz.
Tinhas outra profissão, em mente, ou jornalismo foi sempre o teu maior interesse?
O jornalismo sempre foi a minha paixão. Comecei com 17 anos, como correspondente de um jornal desportivo que se chamava "off-side". A meio da minha jornada profissional ainda tentei a Informação médica, durante aproximadamente 3 anos, mas foi uma experiencia para esquecer. Não tinha jeito nenhum e voltei à radio.
Conta me como foi a primeira vez que ouviste a tua voz na rádio?
Isso aconteceu há 31 anos. Foi numa altura em que a RDP apostava na regionalização. Em 29 de Junho de 1985, dia em que fiz 18 anos, abriu a RDP/Radio Guarda, e o meu pai foi para lá como director. Pouco depois comecei a coloborar lá, enquanto continuava os estudos, e fazia um programa há tarde que se chamava "Horizonte". Ao principio achei estranho e tinha uma grande preocupação na colocação de voz. Como quase toda a gente não gostava de me ouvir e só fiquei descansado quando a Drª Estrela Serrano, que era responsavel pela programação da RDP, fez num relatório oficial, e que guardo como se de uma reliquia se tratasse, e onde teceu vários elogios ao meu trabalho e à minha voz. Dizer tambem que isso me tirou o peso nas costas que tinha, por ser filho do director.
Quando chegaste à antena 1?
A minha chegada à Antena 1 surgiu logo após a minha saída da informação medica. Foi em 1999. Nessa altura já tinha passado pela Agencia Lusa e pelo jornal "O Jogo", como correspondente em Coimbra, e em termos de rádio fiz parte do primeiro projecto de uma rádio profissional em Coimbra, ainda no tempo das rádios piratas, chamava-se Rádio Actividade e, após a legalização das rádios estive na TSF/Coimbra durante 8 anos. Foi quando a TSF fechou em Coimbra que passei pela informação medica. Na altura surgiu a possibilidade de vir para o Porto, já que a RDP tinha perdido no desporto dois jornalistas. O Rui Orlando para a Sporttv e o Rui Cerqueira para a RTP. Surgiu o convite e eu aceitei.
Qual a primeira reportagem nacional?
A minha primeira reportagem já não me lembro. A recordação que tenho é da minha primeira grande reportagem. Foi em 1988 a Presidência Aberta de Mario Soares na Guarda. Foi uma experiencia inesquecivel. Não havia telemoveis, o carro que conduzia era uma Renault 4L e foi uma luta gigantesca para conseguir contar tudo para a TSF. Recordo-me que saía dos locais quando o Mario Soares acabava de falar, era ultrapassado pelo caminho pela comitiva e quando chegava ao próximo local de reportagem o Mario Soares já estava a começar a falar.
E o primeiro relato? Como correu?
Qual a viagem de trabalho que mais gostaste e porquê?
O meu primeiro relato a sério foi na TSF. Inicio de época 93/94 num torneio de pré-época do FC Porto. Uma das equipas era o Cruzeiro do Brasil onde jogava, ou começava a jogar um "tal" de Ronaldo, 17 anos, que se veio a transformar no fenomeno. Um marco na minha vida profissional, tal como o facto de ter feito o relato a meias com um dos melhores relatadores que conheço, o Carlos Daniel. Aliás foi um prazer ter feito equipa de relatadores na TSF com nomes como os do Fernando Correia, Jorge Perestrelo, Carlos Daniel e Paulo Sergio. Uma grande equipa recheada de grandes profissionais e com os quais muito aprendi.
Qual o momento mais intenso que recordas, enquanto, jornalista?
Alguns apertos. Há dois que nunca mais me vão sair da memoria. Um em Guimarães, após um Vitoria - Boavista que terminou mal. Os jornalistas estiveram mais de duas horas retidos no Estádio porque a PSP não garantia a segurança a ninguem. A outra foi numa Assembleia Geral de sócios do FC Porto, no antigo pavilhão Americo de Sá, após a famosa penhora de uma das santinas no Estadio das Antas por parte do fisco. Um ambiente de cortar à faca para os jornalistas e que teve direito a ameaças de bomba e tudo e com Pinto da Costa a dizer "... eu espero que ela expluda."
E aquele trabalho que pensas, hoje, nao deveria ter saido de casa?
Isso é coisa que acontece várias vezes. É cada vez mais normal chamar os jornalistas sem nada para dizer. Mas isso é culpa nossa. Penso que a vontade de estarmos em todos os acontecimentos por vezes falam mais alto e vamos a muito lado onde afinal a noticia não existe.
Também trabalhas com a imprensa escrita. O que te dá mais satisfação, o jornalismo escrito ou o radiofónico e porquê?
Agora já não. A última experiencia que tive na imprensa escrita foi no Primeiro de Janeiro. Terminou mal por culpa de um mau empresário que ainda hoje me deve dinheiro. São jornalismos diferentes, mas a imprevisibilidade da rádio, o directo, sempre me fascinou mais.
Qual a viagem de trabalho que mais gostaste e porquê?
Houve muitas. Mas houve uma deslocação a Kiev que me deu especial prazer. Foi com o Sporting de Braga, em 2010/11. Estavamos nos quartos de final da Liga Europa, o Braga já tinha cumprido a sua obrigação que era passar a fase de grupos. E tinha, por mérito proprio chegado aos 4ºs de final da competição. Em Kiev empataram a 1 golo e depois do empate a zero em Braga atingiram as meias finais, derrotaram o Benfica e jogaram a final com o Porto. Grande Braga o de Domingos Paciência.
Qual o entrevistado ou noticia mais marcante que fizeste?
Sem duvida nenhuma uma entrevista a Miguel Torga. Foi a última entrevista que deu, a mim e a TSF, após a publicação do seu último livro em 1993.
Sem duvida nenhuma uma entrevista a Miguel Torga. Foi a última entrevista que deu, a mim e a TSF, após a publicação do seu último livro em 1993.
Quem são, de momento, as tuas referências jornalísticas?
Neste momento não tenho muitas sou sincero. Mas dentro da minha área tenho alguns companheiros de quem aprecio o trabalho. Nuno Matos e Fernando Eurico na minha rádio, Antena 1, são obviamente referencias. O Nuno pelo seu estilo inimitavel e inconfundivel o Fernando pela sua capacidade de trabalho. Existem no entanto outras referencias do passado e não posso deixar de falar em nomes como os de Antonio Pedro, Rui Almeida, com quem fiz o primeiro relato a duo na Antena 1, Oscar Coelho e claro o Jorge Perestrelo.
Quando não falas de bola, falas de quê?
De politica, de musica, de tudo um pouco. Gosto tambem muito de cinema, mas como sou casado com uma jornalista a maior parte do tempo é passado a conversar sobre politica mesmo.
Quem é o teu cantor ou banda que ouves no carro?... Ou só ouves noticias (risos)
Gosto muito de musica. Pink Floyd é a minha banda de eleição. No carro, em casa há sempre um CD de Roger Waters e companhia. Álias foi o melhor concerto que vi até hoje, Pink Floyd em Alvalade. Pena o Roger Waters já não estar na banda, mas foi fantástico.
Como vês o nosso país... a nossa europa... o nosso mundo?
Cada vez com maior preocupação. Em relação ao país preocupa-me o futuro. O futuro das minhas filhas e dos jovens deste país que são obrigados a emigrar, fazendo-nos regressar ao tempo do pós 25 de Abril e da emigração em massa para a França e para a Suiça. São precisas politicas que ajudem os jovens a poder sonhar com um futuro risonho em Portugal. Quanto à europa a preocupação é cada vez mais a falta de "humanidade" das politicas europeias onde só fala o mercado financeiro e tudo o resto tem que se sujeitar aos mercados financeiros. O mundo esse olha para tudo isto como se não se tivesss a passar absolutamente nada.
O que dirias aos jovens que sonham, um dia, ter um trabalho como o teu?
Diria para procurarem outras alternativas. É um bocadinho duro mas é assim mesmo. O mercado da comunicação social esta cada vez mais fechado, ocupado por gente que nada tem a ver com jornalismo e que tem apenas uma cara bonita. Isto para além de se assistir a uma exploração cada vez maior do trabalho dos jovens, mal pagos e explorados com os chamados estagios profissionais, que não passam de escravidão encapuzada. Mas pronto, salvaguardando tudo isto, é importante, e é algo que muitos dos que estudam jornalismo não fazem, é ler. Ler tudo. Livros e jornais. Ninguem pode ser jornalista se não se souber o que se passa no país e no mundo. E depois dedicação, muita dedicação. Não é facil não ter horarios, não ter fins de semana, não ter "familia", já que o jornalismo é algo que não tem dia nem hora marcada.
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