José Milhazes
«Receio que os actuais dirigentes russos conduzam o seu país à falência e à ruína»
Entrevista: Cristina Alves
José Milhazes, o jornalista e
historiador português que quis ser padre antes de partir em 1977, para Moscovo.
O homem da Póvoa de Varzim que foi um dos poucos jornalistas ocidentais a assistir
à queda da URSS regressou a Portugal e hoje está connosco no vozquevoa.blogspot.com
José Milhazes, como é que um jovem
que não gosta nada de línguas estrangeiras vai parar à União Soviética?
Por questões
ideológicas, quando se acredita sinceramente que “o comunismo é o futuro
radioso da Humanidade”.
Foi fácil a adaptação? Que recordação
guarda dos primeiros tempos?
Foi feita
com algumas dificuldades, mas tudo superável. Saudades da família e dos amigos
que ficaram em Portugal. Por outro lado, aparecem novos amigos portugueses e de
outros países. Dos primeiros tempos recordo o mês em que apenas comi ovos e
salsichas, pois não me adaptava à cozinha russa.
Como estudante de história algum dia
sonhou tornar-se jornalista? Como foi o convite para ser correspondente?
Nunca sonhei
ser jornalista. Sacerdote, sim, mas nunca jornalista. O convite surgiu por
acaso. A TSF procurava um correspondente na URSS em mudança e eu procurava uma
forma de ganhar mais algum dinheiro para sustentar a família.
E assim foi, em
Agosto de 1989 José Milhazes escreveu a primeira crónica para a TSF a propósito
da visita do ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética ao Irão.
Depois aparece o jornal “Público” com que trabalhou desde o número um e mais
tarde a SIC.
Dedicou-se ao jornalismo sem nunca
abandonar a história. O clássico caderno para apontamentos ainda o acompanha
com o intuito de guardar memórias, lugares e relatos de pessoas que depois
passa para os seus livros?
Não existe
um caderno clássico, mas papéis com notas, que podem ir de facturas até
guardanapos de papel. Duas ou três palavras apenas e, depois, é recordar e
reproduzir.
Que pessoa ou pessoas o marcaram mais
ao longo destas quase quatro décadas na Rússia?
Um grande
amigo meu já falecido: Rashid Kaplanov, historiador, poliglota, grande amigo de
Portugal e muito boa pessoa.
Hoje em dia a Rússia está
completamente diferente. No seu entender é bom ou é sinal de preocupação?
Uma forte
preocupação. Receio que os actuais dirigentes russos conduzam o seu país à falência
e à ruína. A sua agressividade externa devia pôr em aviso a Europa.
Deixou de ser o correspondente
português em Moscovo. Regressou a Portugal. E agora, José Milhazes, onde o pode
encontrar o leitor, o telespectador?
Nas minhas
colunas no jornal on-line Observador, nos meus comentários na SIC, RDP e no
blog darussia.blogspot.com.
No seu último livro, José Milhazes
conta a história, até agora praticamente desconhecida, de um judeu português,
António Manuel Luís de Vieira. O historiador descobre que
nomes famosos da pintura e do cinema mas também heróis das lutas napoleónicas
ou malfeitores são descendentes de Vieira, cuja linhagem chega aos nossos dias.
O seu último livro “ O Favorito
Português de Pedro o Grande” é científica e historicamente correcto. O que é
que o fascina em Pedro o Grande?
A vontade de
mudar, de se aproximar da Europa. Embora discorde dos métodos que ele tenha
utilizado para isso.
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