O mundo entre os pés de uma criança
Texto de : Cristina Alves
Texto de : Cristina Alves
Estranhamente este Verão só chove. Está calor, é verdade mas tanta chuva, aborrece. Não posso sair de casa pois a minha mãe diz que me constipo e assim, ficando bom tempo, já não dá para eu estar com força para jogar à bola.
O Rodrigo foi sempre assim. Sempre adorou falar de si para si. Muitas vezes em frente ao espelho, explica a si próprio a matéria que ia sair no teste. Tal qual como se fosse o seu professor. Se gostava de estudar? Estudava o suficiente porque o que realmente mais amava, era jogar à bola. E nem precisa de ter nos pés uma bola verdadeira. Qualquer objecto estava óptimo para dar uns toques.
Jogar à bola na rua, no parque ou no campo tinha sempre sabor a liberdade e era isso que lhe provocava alegria.
- Pai, será que não é possível irmos até àquele pavilhão perto da escola? Estás muito ocupado? Podíamos ir nem que seja meia-hora. Vá lá!
O pai que já conhecia bem esta sua paixão, ele próprio era assim mas com as responsabilidades familiares tudo tinha mudado um grande bocado, olhou para o Rodrigo e não resistiu ao ver os seus olhos cintilantes cada vez que repetia "jogar à bola":
- Dá-me 5 minutos e vamos até lá. Também estou a precisar.
Os 5 minutos, longos, finalmente chegaram e o Rodrigo já tinha tudo preparado. Para si e para o pai, claro! Não queria perder tempo.
Aliás, queria aproveitar muito bem o tempo no pavilhão.
Chegaram bem rápido e ja equipados foi fácil fazer as equipas. Ali todos se conheciam e iam trazendo colegas, amigos ou familiares por isso o espaço estava sempre bem ocupado.
Ninguém gostava de perder, verdade! Mas o que todos apreciavam era as jogadas de Rodrigo a quem chamavam mágico.
Assim que a bola estava nos seus pés, parecia que tinha iman, o pavilhão ia ao rubro.
Os defesas nem reflectiam sobre a sua posição, queriam era deliciar-se com a magia que existia entre o Rodrigo e a bola.
A meia hora tinha-se esgotado e nem sinal de cansaço. Pai e filho estavam dispostos a continuar mas havia obrigações a cumprir. Com a mesma vontade regressaram a casa. O pai voltou aos papeis, que tinha de rever, para levar para o escritório e o Rodrigo regressou ao espelho para apreciar a sua leitura, em voz alta, do texto de Jorge Amado.
Se a vida é feita de todos os momentos: em família, na escola, no trabalho, com amigos e conhecidos, Rodrigo e o pai já tinham avançado muito no puzzle que lhes tinha calhado.
Num dia completo, quer esteja sol ou chuva, sempre têm tempo para fazer tudo o que mais gostam.
- Pai, gosto muito de ti. Quando crescer, quero ser assim parecido contigo.
Com o coração enternecido por este desabafo o pai diz:
Amo-te muito Rodrigo! Sejas o que fores, o mais importante é que, és o meu filho.
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