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Literatura
                                    José Ovejero
                                                  Uma viagem e um mote :
                                                            "A invenção do amor"
                                                                                      por: Andreia Carneiro



Convidei José Ovejero
, galardoado escritor espanhol, para ir de viagem comigo pela Europa. "A invenção do amor" é um dos temas de conversa, não fosse a obra mais conceituada do autor. Venha connosco, e descubra o homem, o autor, o cidadão Europeu, que já conquistou a América Latina.


Vamos fazer uma viagem, pela Europa. Começamos em Madrid. Mala feitas, apenas e só com livros e ideias. Vamos nós rumo a Paris... Aceita?
Resposta: Obrigatório dizer SIM (risos)
José Overejo estamos aguardar avião... como é um homem do Mundo, qual o autor espanhol que me convida a ler, na viagem até á capital francesa e porquê?
Neste momento, recomendava-te a Marina Perezagua y a Marta Sanz, cada uma ao seu estilo estão a realizar uma literatura, muito interessante e atrevida, pouco convencional.


Já viveu, em várias cidades e participa em numerosas conferências. Qual o local mais deslumbrante que já visitou?
É muito difícil de responder, como é difícil para mim dizer qual o meu livro favorito. Teria que citar vários e sei que deixaria de fora outros lugares que me encantaram. Mas, menciono a Selva de Corcovado, na Costa Rica e as montanhas Rochosas, no Canadá e o meu bairro, Lavapiés, ao amanhecer.
Chegados a Paris, vamos até ao símbolo da cidade. E no alto da torre falamos do seu ponto alto  "A invenção do amor" titulo de uma obra, sua, que relata os dias de hoje, numa qualquer cidade Europeia, que poderia ser esta. Onde foi buscar as ideias para criar Samuel, personagem principal deste romance, que vê no amor a saída para os seus problemas?











Numa noite estava no meu terraço - Eu, como o Samuel, também tenho um terraço -, e me surgiu a ideia de um homem receber uma chamada telefónica, onde lhe anunciavam a morte de uma desconhecida, e esse homem, invés de explicar que se tratava de um erro, decide finger que conhecia a mulher. 
A partir desta ideia tao simples, comecei a escrever e aos poucos foi surgindo a história de um homem em crise, rodeado de uma cidade, também ela em crise, e as suas tentativas de fugir dela através da fantasia.



 
 José, acredita no amor?
É uma pergunta estranha e, para mim, difícil de responder, porque é impossível saber o que entende por "amor" quem te coloca esta pergunta. Acredito que o amor parte de uma ficção, que é a fase da paixão, que como Samuel, todos nós críamos a pessoa de quem nos queremos apaixonar, e criamos em nós mesmos - numa versão melhorada - para apaixonar o outro.  No entanto, o mais interessante é que através dessa ficção, podemos chegar a uma relação amorosa muito mais realista. Para isso serve a imaginação, também na literatura.
Da capital francesa, vamos até à Grécia, no próximo avião. Que leitura faz do momento difícil que assola este país que deveria estar protegido por tantos deuses...



A Grécia é a demonstração palpável de que os estados não são soberanos. A dúvida externa é o instrumento usado para evitar qualquer forma de soberania e de decisão independente. Os mais recentes acontecimentos, na Grécia,  são a manifestação de uma derrota. Se na União Europeia ainda havia alguma fantasia de ser uma instituição defensora da democracia, agora mostrou que não são as decisões dos cidadãos, mas sim dos interesses financeiros que ditam a política dos países.
O José é um escritor versátil, se escrevesse um texto sobre Cleópatra, como poderia ser o seu titulo?


Nunca escrevi um romance histórico e duvido muito que possa vir acontecer. Talvez seja, porque como a minha formação inicial é de historiador, desconfio sempre da ficção para contar a História.



Vamos jantar, num qualquer albergue, em Santorini. Que livro, seu, me apresenta e porquê?


 Já que estamos de viagem, recomendaria o meu livro de relatos " Mulheres que viajam sós", em que todos esses relatos estão protagonizados pelos viajantes.





O José venceu com a obra "Invenção do amor" o prémio Alfaguara de Romance, em 2013. Dois anos depois, que repercussão teve este premio na sua vida?


 Os prémios servem - para além de ganhar uma boa quantia de dinheiro que neste trabalho, normalmente, dá muito pouco - para dar visibilidade a um livro. Mas, para além disso neste caso serviu-me para os meus livros tenham uma presença maior na América Latina. Para um autor espanhol é muito agradável ter leitores também do outro lado do Atlântico. E também serviu para que me traduzissem em Portugal. Já me tinham traduzido outros, mas infelizmente numa editora que desapareceu.

Enquanto viajamos até à Suiça, deixando a Grécia para trás.... Pergunto: 
De que forma a Crise na europa é avaliada por um homem tao impar como o José?


Não sei porque me considera ímpar. Mas de qualquer forma, dou-te a minha opinião: a Crise Europeia não é uma crise, é uma mudança de modelo. Aproveitaram as dificuldades económicas para decretar o final do modelo de bem estar. Desde o início da chamada Crise aumentaram os poderes financeiros dos mais ricos e reduziram os dos cidadãos mais pobres. Os cortes converteram-se num eufemismo para reduzir, permanentemente as prestações sociais, reduzir salários e para piorar as condições laborais. Tudo isto, num clima de corrupção generalizada, pelos que nos culpam de não sermos competitivos.



Local de paragem: Suíça!
Como estamos num País rico... pergunto. Este é o paraíso fiscal de muitas personalidades Mundiais. O que pensa dessa fuga de milhões que sustenta este país?


É a manifestação de um sistema corrupto que conta com a cumplicidade dos nossos políticos e dos nossos grandes empresários, que nunca desejaram, verdadeiramente, terminar com os paraísos fiscais e as contas pouco transparentes. Isto revela que a defesa da democracia e do mercado livre não é mais do que uma desculpa e que, na verdade, são cúmplices da lavagem de dinheiro e do financiamento ilegal dos partidos.



De carro seguimos até Alemanha, onde já viveu.
Angela Merkel e as suas politicas, desagradam-lhe?
A política actual Alemã tem uma vantagem: mostrou-nos que a ideia de solidariedade e cooperação que se pregoava desde a União Europeia é uma mentira. Na UE, como em todas as partes, aplica-se a lei do mais forte. E os mais fortes são Alemanha e o Reino Unido.
Quem são os seus autores de referencia alemães?
Joseph Roth, Christa Wolf, Arno Schmidt.



Daqui seguimos para Bruxelas. Cidade onde nasceu. Onde existe uma grande comunidade Portuguesa. O que pensa dos portugueses? De Fernando Pessoa e de Florbela Espanca? 


Bem, conheço o bairro português em Bruxelas. Não tenho nenhuma opinião formada sobre os portugueses; assim como não tenho dos alemães ou dos chineses. Não acredito que a nacionalidade possa ser uma base para emitir opiniões generalizadas.
Durante um tempo li bastante Pessoa; Tinha o livro do desassossego na mesinha de cabeceira e ia lendo partes quase todas as noites. Mas, não conheço a obra de Florbela Espanca.



Qual a viagem mais interessante que fez até hoje?
A viagem que fiz à China e que originou o meu livro China para hipocondríacos.







Vamos terminar esta nossa Viagem, na cidade do Porto, em Portugal, claro. Onde o povo tem fama de bem receber... Aqui pergunto:
Quando lhe direcionei o convite para esta entrevista pensaria viajar tanto (risos)?
Quando se aceita uma entrevista, nunca sabemos qual a viagem que faremos.





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