Literatura
Isabel Stilwell
"A cada livro que escrevo
tremo com a mesma insegurança"
Por: Andreia Carneiro
Os números falam por si, e as vendas dos
livros desta mulher admirável dão-lhe o titulo de Romancista Bestseller. Uma conversa sobre os seus Romances históricos, e onde Isabel Stillwell afirma que muito, há ainda a fazer... Vale a pena, desvendar esta conversa, garanto-lhe!
Como olha para o Portugal de hoje, a nossa romancista bestseller e Jornalista com uma carreira invejável?
Olho com imensa esperança. Estudar a História do nosso País confirma o meu optimismo – temos encontrado sempre caminho, mesmo em situações bem mais duras do que as atuais. Estudar a História, contudo, também nos deixa com a frustrante consciência de que não aprendemos tanto com os erros como devíamos, mesmo com os mais recentes, o que significa que o meu optimismo não pode deixar de ter limites. Em véspera de início de campanha eleitoral confesso que me falta paciência para a demagogia a que vamos todos assistir, de um lado e do outro do espectro político. Se alguém me ouvisse pedia, por favor, que tivessem a coragem de fazer um pacto pelo menos para a Educação: é inacreditável as reformas e contra-reformas que se têm feito, muitas vezes só para satisfação dos egos do momento, com um prejuízo brutal na vida de gerações inteiras.
Os seus romances históricos apaixonaram o nosso Pais, e não só. Uma mulher como a Isabel madura e com pouca vocação para alimentar vaidades olha para esta realidade como?
De uma forma um bocadinho “bipolar”. Há momentos, sobretudo quando entrevistadores me dizem o que a Andreia me está a dizer, em que fico mesmo feliz. Boa, consegui, penso. Mas só dura uns minutos. A cada livro que escrevo tremo com a mesma insegurança – vou ser capaz? Não me vou repetir? Será que vou desiludir os meus leitores, sempre tão generosos? Quando entrego o original à minha editora e à minha filha Ana, sempre as duas primeiras a ler, engulo sempre em seco e fico à espera, com uma ansiedade enorme, pelo veredicto...
Quais dos seus livros a fez pensar, gostaria de ter vivido nesta época e porque?
Acredita que nenhum?!? Não tenho nada a nostalgia do passado, nem sequer sofro daquela nostalgia da infância que tanta gente, acredito eu que por falta de memória, cultivam. Gostava, obviamente, de poder visitar cada uma das minhas rainhas, falar com elas, observar tudo ao vivo e a cores, passar uns dias no quarto de brinquedos dos seus filhos, confirmar algumas das minhas teorias sobre elas e o seu tempo, para poder escrever melhor, mas depois voltava para a minha família, a minha casa, e a minha almofada.
Qual dos seus livros ofereceria este Verão e porque:
Oprah Winfrey - Oferecia-lhe o Guia Para Ficar a Saber Mais Sobre As Mulheres, o meu primeiro livro, acho que lhe fazia bem. Dos romances, talvez a rainha D. Maria II – acho que tem coisas dela.
Catarina Furtado - Oferecia-lhe o livro sobre a rainha D. Amélia uma rainha que, como a Catarina Furtado tem feito muito, trabalhou tanto para tornar a vida dos portugueses mais pobres um bocadinho menos difícil. Criou condições para que as mães e os bebés fossem vistas por médicos e assistidas, lutou contra a tuberculose, ajudou a criar o Instituto de Socorros a Náufragos. Acreditava que o poder só serve se for para servir, acredito que a Catarina sente o mesmo.
Manuel Luís Goucha – Sei que leu a Filipa de Lencastre porque falámos sobre isso, mas acho que gostava muito de saber mais sobre D. Maria II, até porque partilharia com ela o amor a Sintra.
Jonny Deep – (sei tão pouco sobre ele, não estou a ver nada? Histórias para Contar em Minuto e Meio?
Hillary Clinton – Oferecia-lhe o meu último livro, sobre D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques. Como a nossa “rainha” é uma mulher que não abre mão do poder, nem desiste de conquistar mais território, mais protagonismo.
Chanceler alemã, Angela Merkel – Pedia a Hillary Clinton que lhe emprestasse o D. Teresa, pelas mesmas razões. Mas oferecia-lhe também a Ínclita Geração, a vida de Isabel de Avis, a única filha de Filipa de Lencastre e que se tornou Duquesa de Borgonha. Naquela época a Borgonha era um dos estados mais ricos, senão o mais rico da Europa, e a nossa Isabel foi uma verdadeira ministra das Finanças, estratega e diplomata. Acho que gostaria de o ler.
Já escreveu tantas coisas interessantes, que me atrevo a perguntar qual o próximo chão que gostaria de pisar para investigar para um próximo livro?
Num País com a nossa História, o difícil é escolher. Há tantas rainhas, tantas mulheres fascinantes, que descobrir aquela a que vou dedicar os meus próximos dois anos é, só por si, um exercício divertido. Vamos ver, ainda não sei.
Uma mãe babada e uma avó dedicada teve a ideia de nos encorajar, a nós, mães de primeira viagem... Que não precisamos de ser perfeitas... Como surgiu essa grande ideia?
Sendo mãe! E o livro não é só para mães de primeira viagem, porque acho que por muito que se ganhe alguma experiência, e ganha, a verdade é que continuamos a castigar-nos com esse medo de não fazermos tudo bem. De não sermos as melhores em tudo, e ao mesmo tempo. Sabe que descobri que o criador da super-mulher era um homem que vivia, de facto, em bigamia com duas mulheres? Uma punha a mesa, enquanto a outra lhe fazia o jantar, e revezavam-se a tomar conta das crianças enquanto ele desenhava sossegado. E nós, idiotas, caímos na armadilha.
Por isso senti que era preciso repetir às mães, que já andam tão culpadas e tão exaustas, que são as melhores das mães, sobretudo quando são capazes de traçar prioridades e ficar com o essencial, deitando fora o que só desgasta e não adianta nada à vida de ninguém.
Perde tempo assistir à televisão de hoje... o que vê?
Confesso que vejo muito pouca televisão, mas gosto de algumas séries, e gosto sobretudo de durante o dia antecipar o serão em que vou ver a Anatomia de Grey, ou o Scandal. Adorei a série Borgen.
Qual o nome que daria ao filme da sua vida?
Ui, não sou capaz de responder, mas tinha que ser um título que fizesse rir... Quanto ao êxito em bilheteira, seria nulo, mas pouco me importa. Felizmente tenho uma vida muito banal e muito feliz, daquelas que dava um daqueles filmes caseiros, com imensos protagonistas (oito irmãos, 3 filhos, 18 sobrinhos, netos e sobrinhos-netos que nunca mais acabam) para ver em família.
Já pensou nos últimos tempos de crise, levar a família para o seu outro país?
Sou mãe de filhos quinhentos euristas (ou pouco mais) e sei a frustração que sentem ao mandar CV ou procurar lugares melhores e não encontrarem, sei como muitos dos seus projetos vão ficando pelo caminho por falta de oportunidades, mas já são “grandes” demais para que seja eu a levá-los para onde quer que seja. Admiro imenso os pais que encorajam os filhos a partir, e admiro imenso os filhos que têm a coragem de partir e procurar oportunidades que lhes permitam desenvolver os seus talentos, realizar os seus sonhos, e sobretudo conquistar autonomia. Acho, aliás, que vai ser esse o caminho: o mundo tornou-se tão pequeno, a Europa tão próxima, que só vamos ganhar todos com esta mobilidade em que uns vêm e outros vão.
Estou encantada! Tanto com a forma como a Andreia conduziu a entrevista, como com as respostas dadas pela Isabel Stilwell, são respostas mas muito elucidativas.
ResponderEliminarContinue Andreia, está muito.