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PONTO DE ENCONTRO
Texto de: Andreia Carneiro



O café era sossegado, isto para quem via de fora… nos arredores de Paris iluminado. Diz quem sabe que por lá passeiam figuras ilustres. E que consegue ter mais iluminados por metro quadrado, do que a própria “Tour Eiffel”, em hora de ponta.

 As escadas de pedra deixam adivinhar o rústico do espaço. As paredes pintadas de um vermelho escuro tornam o caminho aconchegante, misterioso com sucesso de paixão. Tirei os sapatos para que ninguém saia dos sues majestosos pensamentos.

 Ao chegar ao cimo da vigésima segunda escada, vê-se um senhor de chapéu na primeira mesa, que se encontra, a última para quem está sentado. Ele desvia-se um pouco para o seu lado direito chupando o cigarro com a intensidade de quem diz o abecedário, vezes sem conta. Um bigode pequeno faz uma sombra conhecida. A sobrancelha não é muito farta, mas encontra-se bem delineada…. É o Pessoa, o português. Quem diria que ia encontrá-lo por aqui. Diziam que estava muito doente com uma cirrose hepática, afinal está ali muito sentando a beber um vinho fino, feito lá para as terras do Douro. Deve aguardar alguém com alguma impaciência. O fumo do cigarro não pára de sair da sua boca, que nem versos para o papel. Sejam dele ou de qualquer um dos outros, que ele contém dentro de si. 

 Ainda, não consegui instalar-me devido a tanto dióxido de carbono estrelado que por aqui se estende. 

 Olha quem ali está? Quem diria… o charme e o encanto. Pelos vistos, também gosta destas andanças. E bem que a música o deixava adivinhar. Carlos Gardel delicia-se com o som de um dos seus tangos argentinos tocados por uns músicos que se encontram encostados ao fundo da sala, para quem vê do meu prisma. O instrumental pertence à música “mi Buenos Aires querido”… Quem diria que o senhor do tango estaria sentado numa mesa, acompanhado por uma ruiva que daqui não dá para perceber quem é. Nota-se o seu ar requintado de mulher estudada e preparada para a vida… Muito bem Gardel.

 Do lado direito está um balcão preto, com tanto lustro, que era preciso, provavelmente, contratar todos os engraxadores de Paris para obter aquele brilho. 

 Por trás, deles, estão dois homens bem vestidos a servirem os clientes com a categoria de uma cidade inundada de requinte.

 Agora, um copo de água foi servido a uma mulher sentada pelo lado esquerdo da sala, numa espécie de sofá. Está acompanhada por mais duas pessoas… reparando bem, consigo decifrar mesmo ao longe que é a Mexicana Fridha Kahlo, o marido Diego e Rivera e aquela mulher que está ao lado… Deixa-me pensar é… É Angelina Beloff a primeira mulher dele. Juntar as duas na mesma mesa é obra. Diego sempre mulherengo e com obras de admirar. Pelos vistos continua em força, e não apenas na pintura.

Esbocei um sorriso, mas sem grandes movimentos…

Sai da cortina vermelha por detrás dos músicos, um aglomerado de raparigas… isto deve fazer parte de algum espectáculo improvisado. São as raparigas de Avignon, aquelas do quadro do Picasso. Meu Deus, que chuva de emoções. Mas, será que ele está por aqui? Talvez, não… Málaga tem mais encanto para si. Não fosse a sua terra natal.

 Mudou a música. Enquanto olhei para toda esta gente nem reparei que agora se ouvem sons de grande intensidade, num violino que chora de saudade de Beethoven.

 Olhem só para quem está abanar a cabeça, vinda da Argentina… Que elegância, que porte, que admiração. Eva Perón . Que mulherão.

 Mesmo assim, sei que quando passar por esta sala, todos se vão perder de amores por mim. Não fosse eu Norma Jean, ou melhor Marilyn Monroe. 

 Calça as suas sandálias brilhantes.

 Fica uma réstia de estrelas cadentes no céu, daquele ponto de encontro, em Paris, onde o sol se concentra num vestido branco sedutor.  

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