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Fortes asas de um anjo
 
Fecho os olhos e recordo: 
uma mensagem de alguém que sabia que eu ia estar em Santiago de Compostela e me pedia para rezar por um Anjo em especial. Um pedido daqueles era irrecusável mas o carinho com que me escrevia fez-me crer que se tratava de alguém muito jovem e com uma doença grave. Sou daquelas pessoas que faz muitas perguntas para tentar entender tudo. O Fábio (nome fictício) tinha na altura 16 anos e um tumor cerebral maligno. Quem me escrevia era uma terapeuta  que o acompanhava, há já algum tempo, pois os tratamentos, a quimioterapia e radioterapia, estavam a deixar várias mazelas inclusive a nível da fala.
Foi com este Anjo no pensamento que visitei Compostela pela primeira vez. Sim, sou uma mulher de fé. Acredito em Deus e no tanto que Ele nos auxilia. Uma vez chegada quis entrar na Catedral para cumprir uma prece que já era minha também. Apesar das indicações de que naquele dia fecharia cedo e vendo eu uma fila enorme, achei que não se cumpriria o horário estipulado. Sempre com algum receio de ir a Compostela e não ver o Apóstolo Santiago, confesso que furei uma fila. De repente estava no meio de um grupo que fazia uma visita guiada e todas aquelas línguas só me faziam lembrar que para a fé é só uma. E e' Universal! Deus entende-nos a todos, basta que falemos com Ele. Lembro-me de ter passado por um corredor exíguo ao contornar o altar principal e abraçar a imagem do apóstolo pedindo que curasse o meu Anjinho. Um misto de tristeza mas de confiança também levou-me daquele lugar serenamente. O meu coração estava calmo e encarei o resto da visita e da viagem como um acto espiritual e de meditação.

De regresso a casa pensei nos lamentos que escutei dos que me acompanhavam e da sorte que eu tinha por alguém me ter confiado uma oração a favor de um Anjo. Dormi. Acordei. Fui trabalhar. Ao fim do dia recebi a notícia. A terapeuta tinha encontrado o Fábio sentado no cadeirão e com um belo sorriso. Já se alimentava depois de dias sem conseguir comer nem sequer se levantar da cama. Toda a gente naquele hospital sabia o que a sua médica tinha dito aos pais. O Fábio não chegaria ao Natal. Preparem-se! Fê-los assinar um documento em que não pediriam a reanimação do filho caso a vida para ele lhe fugisse. Nenhum pai está preparado para isto. Nenhum pai quer ver o seu filho partir. É contra a natureza, contra a ordem natural das coisas....

O ânimo com que se encontrava o nosso Anjo naquele dia de manhã era o milagre que os pais pediam a Deus. E obtiveram-no. Diminuíram as sessões de quimioterapia, a alimentação tornou-se regular e já todos falavam nos corredores do S. João daquele menino que acordou.
Apesar das visíveis melhorias, a médica insistia que o Fábio não chegava ao Natal. A terapeuta da fala, o fisioterapeuta, as enfermeiras, as auxiliares e pessoal administrativo zangavam-se com tal pessimismo mas a médica dizia que a medicina é que tinha as certezas.
Encontrei esta médica numa palestra sobre jovens que tinham vencido o cancro e eram verdadeiros casos de sucesso. Não aguentei  e no final quis cumprimenta-la para lhe dizer com toda a convicção que era amiga do Fábio e sabia que ele também seria um desses casos a acrescentar às estatísticas. Zangada com a minha atitude disse-me que o caso do Fábio não tinha solução. Tinha muito pouco tempo de vida. Ninguém imagina o que me custou ouvir aquilo e não a mandar dar "uma curva" com as suas certezas.
Os pais sempre foram incansáveis na doença deste filho. A mãe deixou de trabalhar para cuidar dele. A depressão atacou-a como seria de esperar mas nunca desistiu de acreditar. A terapeuta da fala que me apresentou este Anjo fez todas as terapias até aquelas que não estão nos manuais. A música, o futebol, o conhecer o seu jogador preferido, o ir ao estádio do seu clube, tudo isso deu vida a um adolescente que hoje é um homem. Deixou a cadeira de rodas, já rouba as bolachas à mãe, anda de cavalo, joga a bola e apesar de não cantar este Anjo encanta.
 
A médica só sabe afirmar que no caso do Fábio a ciência não explica. Todos os exames mostram que hoje só há marcas de tratamentos agressivos e nada da passagem do cancro que o ia matar. A fé que moveu tantos amigos está também impregnada neste anjo que adora o Papa João Paulo II.
A um Anjo que voou até aqui numa viagem atribulada eu desejo um voo tranquilo e sereno pela vida fora.
Ao meu Anjo e a todos os Anjos que este mundo tem: muito Amor!
 
Cristina Alves

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