Avançar para o conteúdo principal

JORNALISMO EM ANÁLISE 

POR: JORGE PEDRO SOUSA 







    
                      Professor catedrático da universidade Fernando Pessoa.  



Entrevistadora: Andreia Carneiro 



Atualmente, informar é assistir a um acontecimento, mostrar o que se passa, em direto. Acha que esta nova forma de fazer a notícia, poe em causa o jornalismo, tal como o estudamos?

Informar, no sentido jornalístico do termo, não se reduz ao direto nem ao instantâneo, que nem sequer são recentes: já existem há mais de meio século. Na verdade, cum jornalismo noticioso que vive da velocidade coexiste com um jornalismo que, sem abandonar a intenção informativa, vive do recuo, do apuro dos factos, da contextualização dos acontecimentos, da profundidade no tratamento dos assuntos. Mais perigoso é reduzir-se o jornalismo à emissão vertiginosa de opiniões por meio das redes sociais e dos programas de opinião nas rádios e nas televisões. Informar é diferente de opinar.


Um pensamento que li, sobre jornalismo no novo século, diz que os jornalistas estão em vias de extinção. Que o sistema implantado já não precisa de mais profissionais... Concorda?

Discordo. Num mundo sobreinformado, os cidadãos necessitam, mais do que nunca, de quem filtre, organize, relacione, confirme e contextualize as informações. E de quem forneça informação especializada. Esse alguém é o jornalista. A ele cabe apor um selo de qualidade à informação.


Todos sabemos que, nos dias de hoje, a informação surge em abundância e, para além de numerosa, é rápida e fugaz. Por isso fazem-se notícias sem qualquer interesse, na minha opinião. Atrevo-me a perguntar o que pensa um professor Universitário, que escreve livros sobre jornalismo, quando vê uma notícia sobre um Like que Cristinao Ronaldo fez na página de uma modelo, numa rede social? O facto de o jornalista estar, onde está a notícia, não lhe traz de certa maneira à ideia a pouca preparação que teve, para se preparar para relatar o acontecimento... Ficando a "encher chouriços " durante horas se preciso for?

Não há jornalismo sem mercado. O jornalismo é uma atividade industrializada e o propósito das empresas jornalísticas é fazerem negócio com a informação. Os meios jornalísticos são, inclusivamente, segmentados, dirigindo-se a públicos-alvo diferenciados. Essa notícia, certamente, não apareceu num jornal de qualidade. Não me causa particular incómodo a difusão, pela indústria mediática, de notícias desse tipo se isso gerar emprego jornalístico, assegurar a sobrevivência das empresas jornalísticas e abrir espaço para informação social e civicamente relevante e útil.


Ainda lê um jornal, em formato papel? Qual? Ou viaja pela páginas dos jornais Online?

As duas coisas. Compro e leio jornais em papel ao fim de semana; compro e leio revistas semanais de informação em papel. Mas durante os dias úteis, confesso, só leio jornais em papel quando me aparecem à frente por algum motivo. De segunda a sexta navego pela Internet, mas assino as versões digitais de alguns jornais.


Como avalia a mediatização de alguns casos em Portugal, como exemplo o de José Sócrates, que através de tanta fuga de informação já foi condenado pelos jornais e televisões, em Portugal...

Esse assunto merece dissertações de mestrado e teses de doutoramento. Justiça e Comunicação Social nem sempre convivem bem, porque a Justiça preza o segredo e a Comunicação Social preza a liberdade de informar. É difícil encontrar-se um equilíbrio. Mas muitas das notícias sobre Sócrates, que é uma figura pública e foi primeiro-ministro, e, se calhar, ainda tem muitas ambições políticas, têm inegável interesse público e, nesse sentido, sobrepõem-se ao cultivo do segredo por parte da Justiça.


Portugal e o Mundo assistiram durante semanas à vinda dos refugiados da Síria. Depois de algum tempo, aparecem noticias sobre os mesmos, no entanto em cenários de crime... O poder dos media, faz o pensamento de parte de quem os segue. A minha questão é, quem tem o maior interesse em que hajam refugiados criminosos a todo o instante, se sabemos que dificilmente vão conseguir voltar para o seu País? O que diz atualmente ao seus alunos, sobre tudo isto?

Bem, o jornalismo ecoa o que é notícia. E se é inegável que muitos refugiados vieram para a Europa unicamente para encontrarem abrigo temporário, fugindo à guerra e à fome, estando dispostos a aceitar o nosso modo de vida e acatar as nossas leis e hábitos, outros há que querem fazer na Europa o que faziam nos seus países, negando, por exemplo, dignidade e igualdade às mulheres e prosseguindo atividades que, na Europa, são consideradas criminosas. Os recentes casos de agressão sexual a mulheres, por multidões de homens jovens, em várias cidades europeias denunciam, inclusivamente, algum grau de coordenação criminosa, sendo necessário apurar as razões para que esses acontecimentos tenham tido lugar – talvez haja interessados em colocar refugiados e imigrantes contra os europeus (eis um assunto que merece uma investigação jornalística!).Tanto quanto fui acompanhando, os meios jornalísticos têm relatado exemplos de ambas as situações, porque elas, efetivamente, acontecem. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Rádio Manuela Cardoso:   Não escolhi a Rádio, ela é que me escolheu!                                                                                                       Jornalista: Andreia Carneiro         Manuela Cardoso, uma eterna menina da rádio. De Lamego para o Mundo, um coração que bate a cada palavra que envia para o seu auditório. Descubra-a nesta conversa de amigas... Vai valer a pena!          Uma menina da rádio, eternamente, apaixonada pela profissão. Concordas comigo? Menina da rádio, faz-me lembrar um filme português bem antigo... Sim, mesmo que quisesse disfarçar não conseguia. Eternamente apaixonada, 100% apaixonada pela rádio. Para mim: " Fazer rádio é um eterno vício para quem verdadeiramente nasceu radialista!" como escreveu Mettran Senna  Onde e quando teve inicio esta paixão?  É mesmo uma paixão (  ) e que começou bastante cedo. Era ainda bastante pequenita, andaria para aí na escola primária e como o meu pai( J
Desporto na Rádio Pedro Ferreira   A Paixão pela rádio                                                                                       por: Andreia Carneiro  Há anos que a voz de Pedro Ferreira se ouve na Antena 1, em reportagens de desporto e em relatos de futebol. Mas, quis a vida profissional que a  mais bonita conversa, até aos dias de hoje, tenha sido  com Miguel Torga. Todos os passos na rádio foram contados por si, num regresso de Kiev.     Conta-me como nasceu a tua paixão pela rádio?   A minha paixão é mesmo a rádio. Foi praticamente a minha casa desde o dia em que nasci. O meu pai começou a trabalhar aos 16 anos na Emissora Nacional, foi jornalista durante mais de 40 anos, e eu desde muito cedo frequentei a rádio, observava tudo o que se passava e deixei-me apaixonar pelo fascinio, quase secreto, da rádio. As pessoas eram apenas um nome e uma voz.       Tinhas outra profissão, em mente, ou jornalismo foi sempre o teu maior interes
Dança            Vadim Potapov                                       "sou vosso por completo"                                                                               por: Andreia Carneiro Como e quando surgiu o teu gosto pela dança, fazes ideia?   O meu gosto pela dança foi pela iniciativa da minha mãe. Na Rússia, ela inscreveu-me nas danças de salão, com 6 anos de idade, onde eu pratiquei até aos meus 10. E por pena minha tive que deixar a dança porque tínhamos mudado da cidade. Passado três anos viemos para o Portugal. E passado um ano, após estar cá, a minha mãe mais uma vez decidiu-me colocar de novo aprender dança. Obrigado Mãe! Porque, agora, sei que é, realmente,  minha verdadeira paixão!           Sendo um bailarino de danças de salão, qual o teu estilo de dança preferido?   Ui isso é uma pergunta difícil, porque gosto de dançar vários estilos. Mas penso que, o que gosto de repetir, várias vezes, talvez seja o samba e