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À conversa com Luize valente 

Uma praça em Antuérpia 





Foi quase no final de 2015 que descobri uma escritora, que sendo jornalista levar-me-ia a pegar no seu livro. Mas, o livro era comovente, a história cativante, as irmãs cheias de vida e os judeus sofriam. A sua forma de escrever leva-nos a vivênciar ao segundo esta " praça em Antuérpia"... e como se não bastasse, ele também está por lá, Aristides Sousa Mendes, um homem único, em Portugal, na europa para muitos judeus. E parece também ter " apaixonado" a nossa escritora com quem início a minha aventura, pela cultura, neste, já nosso 2016.

                                                                                       Jornalista: Andreia Carneiro 


Para além de uma mulher carioca, jornalista e escritora... o que já é extraordinário quem é luize Valente?


Uma pessoa extremamente curiosa, que adora viajar, ouvir histórias tanto quanto contá-las, que vive muito o presente mas sabe que ele existe graças ao passado, que ama estar com os amigos, família, com seu cão e seu gato, que agradece a vida e ainda acredita na solidariedade para fazer deste mundo um lugar bem melhor.





                                          







Porquê este fascínio pelo tema tão doloroso da nossa história os judeus, e particularmente, este deslumbre por Portugal?


Sempre tive fascínio por temas ligados à saga dos judeus, desde pequena… inexplicável, pois não sou de família judaica. Já com Portugal a ligação é afetiva pois meus avós são portugueses e sempre tive muito orgulho disso! Além do mais, a História de Portugal se entrelaça muito fortemente com a História do povo judeu. Portugal antes da Inquisição foi o país que mais acolheu judeus no mundo. A herança é muito forte na cultura portuguesa, apesar da assimilação no decorrer dos séculos. Fiz um documentário, lançado em 2002, com o título “Caminhos da Memória – A Trajetória dos Judeus em Portugal”, que mostra os resquícios arqueológicos no país e um romance, “O segredo do oratório”, lançado no Brasil e Holanda, em 2012 (ainda inédito em Portugal) que traz a saga de uma familia cristã-nova em busca de sua origem… passando por Portugal, Brasil, indo até Nova York, onde a primeira comunidade judaica foi fundada por judeus de origem portuguesa, vindos do Brasil, no século XVII.






No seu romance, uma praça em Antuérpia OLIVIA E CLARICE são duas ir! mãs gémeas que dão vida a este seu romance histórico. Porquê a escolha destes nomes?


A escolha foi completamente aleatória, como costumo fazer quando dou nome às personagens. Crio um perfil para elas, como se fossem reais, e aí dou nomes que acho que combinam com a sua “personalidade”. Outras vezes, homenageio pessoas – amigos, família, gente que admiro – com os nomes das personagens.


A história viaja no tempo e no espaço, brasil, portugal e bélgica? Como tem sido o feedback do público brasileiro e português sobre este romance histórico delicioso, comovente e absorvente?


Apesar de tratar de um tema muito comovente, que toca a todos nós, foi muito prazeroso escrever o livro. Além da viagem no tempo, ao passado, fiz uma viagem física mesmo! Percorri os locais da trama, refazendo o trajeto dos personagens – principalmente na fuga da Bélgica rumo a Portugal – tentando ao máximo dar vida a eles e à trama! Acho que esse é um dos motivos de estar tendo uma boa resposta dos leitores. Tenho recebido muitas mensagens emocionantes de leitores envolvidos, que querem saber mais, que dizem ter chorado e vibrado com a saga de Olivia e Clarice. Esse feedback me deixa extremamente feliz pois não há maior satisfação para um escritor do que ter um leitor que acolha sua história!

Aristides Sousa Mendes é um homem impar na história portuguesa. Como nos descreveria após o conhecimento que obteve, deste homem de viseu que tantas vidas salvou e que este seu romance enaltece, como tão bem merece?






Quanto mais leio e escuto relatos sobre Aristides de Sousa Mendes mais o admiro! Sousa Mendes é, literalmente, um herói numa época em que as pessoas tinham todas as justificativas para deixarem a solidariedade em segundo plano. Era uma guerra! Sousa Mendes desafiou Salazar ao ignorar suas ordens de recusar vistos, desafiou Hitler ao defender judeus e outros perseguidos do regime nazista… e isso tudo nos primeiros meses da Segunda Guerra, quando a Alemanha parecia invencível! Resumindo: Aristides era um homem de coragem, com H maiúsculo… de Herói, de Humano!



Um pianista alemão é o amor da vida de Clarice, apos obstáculos vencidos, lutam juntos pela vida e pelas suas vidas. Em que momento nasceu este personagem no seu processo criativo. Alemão entende-se, porquê pianista? Gosto muito de descobrir o que está por detrás dos personagens, na cabeça de cada autor.

O nome Theodor é uma homenagem ao meu bisavô parterno que era alemão e, possivelmente, de origem judaica. Não se falava sobre o assunto e, quando me interessei pelas origens da minha familia paterna, minha avó já havia morrido. Resolvi dar-lhe a profissão de pianista pois queria fazê-lo um cidadão do mundo, ao mesmo tempo, desprendido, comprometido e sonhador. Também era uma forma de mostrar, no dia a dia de um alemão judeu, a ascensão do nazismo que perseguiu artistas e acabou com a liberdade de expressão.
De acordo com as críticas que li, o seu romance poderia, na minha opinião ser levado para as telas de cinema. Já pensou nisso? Ou gostaria que acontecesse?Adoraria que fosse adaptado para o cinema pois acho o livro muito visual, é uma característica da minha forma de escrever. E acredito que a história tem todos os ingredientes para um belíssimo filme… os cenários, as personagens, a ação, o suspense, a emoção.



Em Portugal, Richard Zimler muito nos tem deliciado com o tema judaísmo. Qual a sua opinião sobre este fantástico escritor?

Sou suspeita para falar sobre Richard Zimler pois admiro demais o trabalho dele. É um escritor que aborda de forma muito sensível e original temas ligados à questão judaica. Aliás, seu livro “O último cabalista de Lisboa” é referência para quem quer saber mais sobre o período de trevas da Inquisição. Uma história envolvente, com muito suspense e mistério, que nos transporta à Lisboa do século XVI.



Muito grata à luize Valente por estas respostas. 
Assim como à editora saída de emergência.  Um bem haja à margarida!

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